12 maio 2016

Quem conta as melhores histórias?

Vivemos em um período de mudanças. Uma criança, nascida após 2005, cresceu em uma era em que as tecnologias digitais atingiram níveis de propagação chegando a quase onipresença. Celulares, computadores e internet, já em 2013, chegavam aos lares de mais de 80% das famílias de classe B e C, segundo CETIC, órgão que administra a internet no Brasil. Em tal contexto, é muito fácil para uma criança acessar um vídeo sobre, por exemplo, indígenas na Amazônia. Ele terá acesso a uma “biblioteca” gigantesca através de sites de notícia, do YouTube, da Wikipédia…

Muita gente costuma dizer que este é o futuro da educação. Que ao garantirmos o acesso à informação, cada um passaria a ser um autodidata a gerir a construção do próprio conhecimento. No entanto, dois aspectos costumam passar desapercebidos, e são justamente eles que valorizam uma aula especial realizada junto aos 5ºs anos. Saber o momento certo para se estudar um determinado tema e utilizar o poder dos relacionamentos humanos na promoção do conhecimento, são dois dos principais dons que fazem do professor uma ferramenta insubstituível na educação.

Conta as melhores histórias quem as viveu de verdade

O segredo de um bom professor é a capacidade de unir a necessidade às possibilidades. Foi dessa junção que se concretizou a visita do Frei Paulo. A partir da iniciativa da professora Juliana Mantelatto, o missionário franciscano veio ter uma conversa com as turmas de 5º ano. O tema: índios e a vida na Amazônia.

Por mais que existam vídeos, a se perder de vista, que mostrem a vida na floresta, ou o sofrimento das famílias pobres que vivem em palafitas – aquelas casas construídas sobre a água ou em regiões inundáveis – por mais que tenhamos belíssimas ilustrações em livros e fotos na Internet, nada supera o realismo de uma história contata por quem viveu todas essas situações.

SAM_0798É o caso do Frei Paulo.

Biólogo e ex-professor universitário em São Paulo, ele largou sua vida na maior cidade do Brasil, para servir aos necessitados no interior do Amazonas. Pertencente à congregação dos Irmãos Franciscanos da 3ª Ordem, ele passou 17 anos atendendo mais de 67 comunidades carentes em Manaus e em localidades às margens do Rio Madeira. Além das favelas da capital, grupos de seringueiros e aldeias indígenas  faziam parte das comunidades visitadas pelo Frei.

Para as crianças, Frei Paulo contou um pouco sobre a realidade enfrentada pelas comunidades carentes em meio à floresta. Em meio às dezenas de perguntas curiosas, ele apresentou, ainda, fotos e objetos que colecionou dos anos em que conviveu com aquelas pessoas. Eram objetos indígenas e utensílios usados na região, cada um recheado de histórias e realidades de vida.

Uma das histórias chama a atenção pela aparente contradição. O missionário conta que, de início, seu intuito era ajudar pessoas carentes. Porém, com o tempo, descobriu que era ele quem recebia ajuda em algumas situações. Dos seringueiros, na grande maioria descendentes de nordestinos que migraram para a região norte no início do século XX, ele ganhou o fervor, a fé. “Haviam comunidades que passavam anos sem a visita de um padre ou de qualquer religioso. Mesmo assim, mantinham sua fé intacta e preservada, mostrando uma devoção, muitas vezes, rara de se ver nas comunidades urbanas“, conta Paulo.

Em um outro extremo, foi dos indígenas que ele colheu o humanismo. Ele citou o exemplo das crianças. Segundo o frei, elas são inclusas em todas as atividades da tribo. Não existe uma segregação e o carinho a atenção que eles dispensam aos seus semelhantes, indígenas ou forasteiros, surpreendem quem está acostumado com a indiferença da cidade grande. “Os índios nos ensinam a vivem em comunidade“, destaca o Frei. Aquele que foi para a região de floresta para oferecer conforto àqueles que precisavam de ajuda, acabou por ser acolhido por um povo que, hoje, o faz considerar a região norte como sua “verdadeira casa de coração“.

Além desses exemplos, Frei Paulo falou às crianças sobre a vida na Amazônia e sobre a cultura indígena com um realismo e nível de detalhes que só quem viveu poderia contar. Segundo a coordenadora Elaine, a visita / conversa promovida junto aos 5ºs anos é um exemplo que “ressalta a importância de se trabalhar com história das mentalidades, utilizando-se de fontes históricas que trazem, através do registro oral, diversas experiências concretas sobre um tema.