09 setembro 2015

MàM entrevista – Bate-papo com Issac Trevisan da banda “Poder Racional”

Na última edição da Noite de Talentos, o colégio Ave Maria trouxe para se apresentarem ex-alunos que hoje formam a banda “Poder Racional”. Após o show, o aluno Rafael Siqueira Martins, repórter do jornal Médio à Mostra, fez uma entrevista com o baixista da banda, Isaac Trevisan. Confira!

noite de talentos - poder racional

Isaac, segundo da esquerda para a direita, com camiseta dos Rolling Stones; e Rafael, com camiseta listada, à direita.

Rafael: Como foi receber o convite para retornar ao colégio para se apresentar na Noite de Talentos?
Isaac: Foi uma grande alegria. O colégio foi – quase que literalmente – nossa casa por muito tempo; convivíamos ali de segunda a sexta, das 7h da manhã até o fim da tarde. Retornar foi inexplicável. Começamos a banda no Colégio e lembro que tínhamos muita vontade de apresentar no teatro, o que conseguimos em 24 de novembro de 2012, juntamente com a banda Besouro Verde (dos ex-professores do Colégio, Felipe, Tadeu e Duda). Tocar ali foi sentir novamente aquele gostinho de satisfação.

Rafael: Teve alguma participação da Noite de Talentos de que vocês mais gostaram?
Isaac: Eu falo muito por mim, e acho que meus companheiros de banda não discordarão muito, mas foi uma enorme surpresa. Alguns que se apresentaram nós já conhecíamos, e outros conhecemos ali na hora. Sem demagogia, achamos todas as apresentações fantásticas. Eu lembro que fui com pouca expectativa para a passagem de som, não por mal ou por soberba, mas porque estava bem doente e fui fazer o show “no sacrifício”, não estava plenamente concentrado; porém, lembro que quando o Tiago cantou I won’t give up, a primeira música da passagem de som, eu meio que ignorei tudo que estava a minha volta e só me concentrei ali no talento dele. E o mais surpreendente foi que todas as outras músicas da passagem de som foram de performances incríveis. No dia, foi incrível, pois vi as danças, a mágica que apresentaram e só conseguia admirar a coragem desse pessoal em se expor. Inclusive a Julia, que apresentou o Show de Talentos, e o fez com tamanha maestria, com calma e confiança – parecia que estava na área de comunicação há anos! Da organização às apresentações, foi tudo perfeito.

Rafael: Como é para vocês terem muitos jovens que, assim como vocês, estão apresentando o seu talento através da música?
Isaac: Como disse na última pergunta, todos foram muito bem, no geral. Mas ver esse pessoal com a música é diferente; é impossível não me lembrar da minha época e da banda (como eu me sinto velho dizendo isso!). Que nunca desistam da música. Uma vez Rodrigo Faro nos aconselhou dizendo que seus sonhos eram as artes e a comunicação, mas, como são áreas muito incertas, procurou um plano B; e hoje, ele é um dos maiores comunicadores do país. Seguimos isso fielmente e torço de verdade para que essa galera faça isso também. Nós continuamos com a música, nosso sonho, mas cada um tem seus “planos B”. Reitero: não abandonem a música!

Rafael: Como foi o processo na escolha do setlist da apresentação?
Isaac: A escolha da setlist é algo até paradoxal! Porque sempre é fácil, visto que se cria um entrosamento grande em 3 anos de banda, e com o histórico de apresentações nós sabemos o que tocamos melhor e o que gostamos mais; mas ao mesmo tempo é muito difícil porque gostamos de tudo o que tocamos! A questão é saber o que tocar de acordo com cada tipo de público. No colégio, com o tempo curto, tivemos de analisar calmamente para mostrar todas as nossas “caras”: queríamos mostrar nossa cara de Hard Rock e abrir e fechar com músicas de impacto – isso é essencial em qualquer show de qualquer banda – aí as escolhas de Misirlou/Born to be wild, na abertura, e Free Bird, no encerramento. Para o “meio”, escolhemos músicas mais calmas, com uma “pegada” mais tranquila. Don’t let me down encaixou perfeitamente, pois Beatles são uma presença constante no nosso repertório, e essa é uma música que achamos que tocamos ao agrado do público. Por fim, Fruta Proibida marcou presença por ser uma de nossas primeiras músicas autorais, e era a única música que tínhamos certeza de que iríamos tocar, desde que recebemos o convite, pois eu, Leone e Paulo a criamos no Colégio – com o violão da salinha de estudo do Ensino Médio e o meu baixolão. Foi um daqueles dias que não esqueceremos, em um lugar que não esqueceremos.

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Rafael: No meio da apresentação você transmitiu mensagens muito bonitas. Tem algum conselho que você pode dar para os alunos do Ensino Médio?
Isaac: Poderia falar mil coisas, acho – e isso é um mal de professor, me perdoem! O Ensino Médio é um período maravilhoso e é preciso curtir cada minuto dele, até mesmo os mais chatos. É clichê ouvir, mas cada fase da vida é, de fato, só isso: uma fase. O fim do EM foi a primeira vez que senti como é brutal o fim de algo. Sabemos como é assustador ter tão próximo o fim desse convívio cotidiano, dessa rotina, assim como ter o fantasma da faculdade e, consequentemente, do amadurecimento, batendo à porta. Mas uma nova fase vem aí, e o que realmente importa vai continuar: a amizade. Pode ter certeza que, por mais que não como antes, os amigos continuarão presentes. Perder o contato com algumas pessoas acontece, por mais triste que seja, mas o maior valor que tirei da minha passagem pelo Ave Maria foi que uma amizade verdadeira nós damos algum jeito de manter. Sempre. E além do mais, faremos novos amigos ao longo do tempo, com o rumo que tomarmos, seja o cursinho ou a faculdade, por exemplo.
Para finalizar, quanto a esse assunto de faculdade, falo algumas coisas que senti que faltaram me dizer quando passei pelo 3º EM, e que hoje falo para alunos e amigos:

  • Primeiro: tenha foco. Se você tem esse desejo de fazer faculdade e já sabe o que você quer e onde você quer, foque. Faço História na Unicamp e desde o começo queria que assim fosse. Isso nunca me pareceu um sonho distante porque me lembro de uma frase que li na UPA (Unicamp de Portas Abertas) que fui com o Colégio em 2010: “A Unicamp é possível”. E isso eu digo para vocês: o seu desejo é possível. Estude. Claro, não abdique plenamente da sua vida social, da namorada, dos amigos, mas saiba que você tem uma meta e vocês têm claras chances, vindos de onde vocês vêm.
  • Segundo: você não é obrigado a saber o que você quer fazer pro resto da sua vida agora. Nós somos jovens; vocês mais do que eu. Algumas pessoas parecem pressionar-nos às vezes, e pressão teremos sempre, mas lembrem-se: você não é melhor ou pior que ninguém se não tiver clareza do que quer. Quando estamos na faculdade, constantemente vemos pessoas mudando de curso, ou então começando um curso que não queriam fazer e se apaixonando por ele, ao longo. O destino é incerto. Por agora, mantenham-se calmos e procurem informações. O Colégio ampara-nos muito nessas questões, e também é muito importante ir atrás de cursos e Universidades.
  • Terceiro: você não será necessariamente pior que alguém se fizer Universidade privada, nem melhor se fizer pública. Serei sincero, a Universidade pública abre portas extraordinárias pra você – por exemplo, tenho acesso a dezenas de aulas de línguas de graça, contato com pesquisadores fantásticos a nível mundial, o contato com as pessoas de todo o mundo que ali estão é incrível, etc. Mas ser um profissional competente e de destaque só depende de você, seja formado pela UNICAMP, USP, PUC ou METROCAMP. Assim como é importante procurar por especificidades de cada curso de cada Universidade. Eu escolhi a Unicamp dentre a PUC, a USP e a UFF por me atrair mais pela grade e pelo ambiente; mas conheço quem passou em Psicologia na USP e na PUC e preferiu a PUC, que tem um curso excelente, a propósito.

O que você fizer, onde você fizer: é mais fácil entrar do que sair. Mas serão, muito possivelmente, os melhores anos de suas vidas.
Enfim, já me alonguei muito, mas é basicamente isso: humildade, respeito e amizade. Humildade para saber que suas crenças, ou descrenças, sua cor de pele, sua orientação sexual, suas notas; nada disso te faz mais importante que o outro. Respeito por quem você é e por quem são os outros – sem respeito e empatia nos tornamos egoístas e tristes. E a amizade, conforme já disse, é essencial. Sozinho, nada vale a pena, nem mesmo momentos de felicidade. A amizade é uma daquelas coisas que nos fazem acordar. Abraços, e boa sorte.

Isaac Trevisan
Aluno do 6º Semestre de História/Unicamp
Ex-aluno do Colégio Franciscano Ave Maria