18 maio 2011

ELOGIE DO JEITO CERTO

Por Marcos Meier –


Recentemente um grupo de crianças pequenas passou por um teste muito
interessante. Psicólogos propuseram uma tarefa de média dificuldade, mas que
as crianças executariam sem grandes problemas. Todas conseguiram terminar a
tarefa depois de certo tempo.

Em seguida, foram divididas em dois grupos. O grupo A foi elogiado quanto à
inteligência. “Uau, como você é inteligente!”, “Que esperta que você é!”,
“Menino, que orgulho de ver o quanto você é genial!”, e outros elogios à
capacidade de cada criança.

O grupo B foi elogiado quanto ao esforço. “Menina, gostei de ver o quanto
você se dedicou na tarefa!”, “Menino, que legal ter visto seu esforço!”,
“Uau, que persistência você mostrou. Tentou, tentou, até conseguir, muito
bem!”, e outros elogios relacionados ao trabalho realizado e não à criança
em si.

Depois dessa fase, uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi
proposta aos dois grupos de crianças. Elas não eram obrigadas a cumprir a
tarefa, podiam escolher se queriam ou não, sem qualquer tipo de
consequência. As respostas das crianças surpreenderam. A grande maioria das
crianças do grupo A simplesmente recusou a segunda tarefa. As crianças não
queriam nem tentar. Por outro lado, quase todas as crianças do grupo B
aceitaram tentar. Não recusaram a nova tarefa.

A explicação é simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos
e nossos alunos. O ser humano foge de experiências que possam ser
desagradáveis. As crianças “inteligentes” não querem o sentimento de
frustração de não conseguir realizar uma tarefa, pois isso pode modificar a
imagem que os adultos têm delas. “Se eu não conseguir, eles não vão mais
dizer que sou inteligente”.

As “esforçadas” não ficam com medo de tentar, pois mesmo que não consigam é
o esforço que será elogiado. Nós sabemos de muitos casos de jovens
considerados inteligentes não passarem no vestibular, enquanto aqueles
jovens “médios” obterem a vitória. Os inteligentes confiaram demais em sua
capacidade e deixaram de se preparar adequadamente. Os outros sabiam que se
não tivessem um excelente preparo não seriam aprovados e, justamente por
isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram
melhor em cada uma das disciplinas.

No entanto, isso não é tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos
precisam aprender valores, princípios e ética. Precisam respeitar as
diferenças, lutar contra o preconceito, adquirir hábitos saudáveis e
construir amizades sólidas. Não se consegue nada disso por meio de elogios
frágeis, focados no ego de cada um.

É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se faz
com elogios, feedbacks e incentivos ao comportamento esperado. Nossos filhos
precisam ouvir frases como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom
coração”, “parabéns meu filho por ter dito a verdade apesar de estar com
medo. você é ético”, “filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção
àquela menina nova ao invés de tê-la excluído como algumas colegas fizeram,
você é solidária”, “isso mesmo filho, deixar seu primo brincar com seu
videogame foi muito legal, você é um bom amigo”.

Elogios desse tipo estão fundamentados em ações reais e reforçam o
comportamento da criança que tenderá a repeti-los. Isso não é “tática”
paterna, é incentivo real. Por outro lado, elogiar superficialidades é uma
tendência atual. “Que linda você é, amor”, “acho você muito esperto meu
filho”, “Como você é charmoso”, “que cabelo lindo”, “seus olhos são tão
bonitos”. Elogios como esses não estão baseados em fatos, nem em
comportamentos, nem em atitudes. São apenas impressões e interpretações dos
adultos. Em breve, crianças como essas estarão fazendo chantagens
emocionais, birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão
desenvolvido resistência à frustração e a fragilidade emocional estará
presente. Homens e mulheres de personalidade forte e saudável são como
carvalhos que crescem nas encostas de montanhas. Os ventos não os derrubam,
pois cresceram na presença deles. São frondosos, copas grandes e o verde de
suas folhas mostra vigor, pois se alimentaram da terra fértil.

Que nossos filhos recebam o vento e a terra adubada por nossa postura firme
e carinhosa.

*Marcos Meier é mestre em Educação, psicólogo, professor de Matemática e
especialista na teoria da Mediação da Aprendizagem em Jerusalém, Israel.

Fonte: http://www.marcosmeier.com.br/downloads.php