26 março 2019

As tragédias de cada dia

O artigo abaixo, de autoria de nossa diretora pedagógica, Cristina Corsini, foi copartilhado inicialmente pelo ClassApp com todas as famílias do Colégio e, no dia 23 de março, publicado na edição de sábado do Correio Popular.

Vale a leitura e a reflexão: Página da publicação original no Correio Popular

As Tragédias de Cada Dia

Por: Cris Corsini Psicóloga e Diretora do Colégio Franciscano Ave Maria

Infelizmente fomos acometidos ontem por mais uma tragédia. Somente esse ano já foram três!!Vidas interrompidas pela ganância, pelo desrespeito, pela falta de cuidadoe respeitodo outropara com os outros.Porém, eu pergunto, será somente pela falta de respeito e cuidado do outro? Que parte disso tudo cabe a mim?

Vocês devem estar se perguntando: Como assim? Imagine só, não fui eu e eu também não tenho parentesco algum com o garoto que atirou naquelas pessoa dentro daquela escola, ontem, em Suzano. Também não imagino porquê e nem como eu teria qualquer relação como uma enchente ou com o rompimento de uma barragem.

Matéria - Correio Popular (23-03-19)

Página com publicação do texto no Correio Popular.

Será?

Paremos para refletir. Pregamos e ensinamos aos nossos filhos a importância do respeito. Respeitamos, por exemplo, os animais. Levantamosa bandeira contra os maus-tratos ao gato, ao cachorro, paramos de consumir carne,… enfim.

Mas, até que ponto além do gato, do cachorro, do porco, da vaca dentre outros, eu respeito a árvore, eu respeito a água (deixando de tomar banho demorados ou não lavando o carro toda semana), eu respeito o ar (deixando de polui-lo ao ir trabalhar todos os dias de carro ou usando o carro para ir até a padaria que fica logo ali, na esquina), eu respeito o meu colega de trabalho, eu respeito a mim mesmo? Somente quandorespeito a TUDO e a TODOS é que verdadeiramente estou sendo cidadão. Do contrário, sou apenas um ativista! Não como carne, mas tomo banho de meia hora para “relaxar”. Não mau trato os animais, mas não vou a pé comprar um remédio na farmácia que fica na esquina de casa porque está muito sol.Respeito ao idoso cedendo lugar no ônibus, mas não sei lidar com as “dores” da minha alma por isso sou “briguento” e “esquentado” ou, ao contrário, só “engulo sapo”!

As “tragédias” (se é que podemos denomina-las assim) que estão acontecendo debaixo do nosso nariz, estão muito mais próximas de nós do que imaginamos e estão, sim, acontecendo por nossa (ir)responsabilidade.

Pensemos no conceito psicanalítico de “inconsciente coletivo” como se fosse uma grande nuvem virtual – icloud. Ali ficam armazenadas as ideias e concepções de uma determinada cultura, de um determinado grupo. A grande questão é que, essa tal “nuvem” vai ficando carregada e de tempos em tempos ela é drenada. Se está carregada de coisas boas, ela drena para acontecimentos bons. Se está carregada de coisas negativas, drena para acontecimentos ruins… as tais “tragédias”.

A nossa sociedade está vivendo uma série de “tragédias” porque está fazendo parte do nosso inconsciente coletivo, falas e pensamentos violentos. Não temos mais paciência uns com os outros, não respeitamos uns aos outros, vivemos isolados no nosso mundo, engolidos pelos afazeres do dia a dia. Não nos ajudamos. Nosso foco está em acumular riqueza. Não sou contra o dinheiro, mas não o vejo mais como um fim em si mesmo. E a família? Quando foi a última vez que você colocou o seu filho para dormir? Quando foi a última vez que você deu uma boa gargalhada num encontro entre amigos? Qual foi o assunto da última conversa que você teve com o seu companheiro? E você, como você tem lidado com as suas frustrações, seus medos, sua raiva? Precisamos com URGÊNCIA parar para que possamos refletir acerca de nós mesmos – nossas atitudes, nossos pensamentos, nossa forma de nos comunicarmos uns com os outros.

Precisamos parar de culpar o Governo, forças espirituais, ou seja, lá o que mais, sempre buscando culpar o outros pelas desgraças que nos acomete. Somente quando cada um parar e olhar para dentro de si, é que poderemos entender que fazemos parte de um TODO. Quando algo acontece seja lá onde for, eu sou vítima e TAMBÉM CORRESPONSÁVEL!

As vezes sentimos que nossa ajuda é apenas uma gota d´água no mar.

Mas, o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.

Madre Tereza de Calcutá