A nossa história através de objetos: você tem algo para mostrar?
A memória humana é algo surpreendente. Muitos anos depois, milhares de horas vividas… Centenas de acontecimentos importantes, alguns felizes, outros nem tanto… Imagens, sons cheiros, toques… Tanta coisa para se lembrar de modo que, se fôssemos um computador, não haveriam HDs suficientes para guardar tudo. No entanto, a memória humana é surpreendente.
Nosso cérebro é capaz de nos fazer lembrar de coisas acontecidas há muito tempo. Não apenas através do que está em nossa mente, mas usando algo que podemos chamar de memória coletiva, algo mais conhecido como história. No desejo de “não esquecer”, o homem passou a registrar acontecimentos e fatos, transmitindo-os através do tempo, a si e aos outros, sendo que dessa forma, a humanidade pôde se lembrar.
A importância da história no Ensino Fundamental
Para uma criança, a lógica da passagem do tempo é um conceito complexo que se constrói ao longo da infância e se desenvolve continuamente até a chegada à fase adulta. Para os pequeninos, falar de algo que antecede sua própria existência e falar de contos de fadas, por exemplo, são atos similares. Ambos são encarados como uma realidade fantástica. A medida que crescem, as crianças aprendem a diferenciar “fatos” de “fadas” e o papel da escola é importantíssimo nesse processo.
Em um trabalho realizado junto aos 2ºs anos do Ensino Fundamental, as professoras incentivaram a construção deste conceito. Cada aluno trouxe de casa um objeto ou foto que contasse um pouco da história de sua família. Além de portarem algo concreto, carregado de significado, os alunos desempenharam o papel de historiadores, pesquisando informações técnicas sobre o objeto trazido e, ao mesmo tempo, tendo de contar aos colegas qual a importância daquele objeto em seus lares.
Coisas muito interessantes surgiram. O aluno Pedro, do 2º ano C, por exemplo, trouxe uma lamparina que foi da bisavó de sua bisavó. Segundo o aluno, o equipamento era usado pela família em uma época em que não existia energia elétrica e hoje serve de recordação. Além de mostrar como era a vida em uma época sem recursos hoje considerados básicos (energia elétrica e iluminação pública), a lamparina conta um pouco da história da família, visto que o objeto veio com a bisavó da bisavó de Orlando, Estados Unidos.
Já Gabriela Soares, do 2º A, trouxe um telefone antigo da sua avó materna, muito usado durante a infância da mãe de sua mãe. Além de ter o gancho, trata-se de um aparelho no qual se “discava” o número de telefone com o qual se desejava falar. O equipamento ajudou os alunos a entender termos como “ligar” e “discar”, geralmente associados a ação de telefonar. Enquanto o primeiro termo remete ao tempo em que para se falar com uma alguém pelo telefone era necessário que um telefonista literalmente “ligasse” fios conectando os dois interlocutores, o termos discar fica evidente quando se vê um aparelho como o telefone da avó da Gabriela.
De fato, os avós foram fundamentais para este trabalho. Além das relíquias guardadas, eles ofereceram às crianças a oportunidade de manipular objetos que não fazem parte de seu cotidiano. É o caso da calculadora, trazida pela aluna Flávia e da balança, da aluna Carolina. São objetos que contam como era o trabalho em uma época não digital.
A viagem no tempo foi uma das características mais fantásticas do trabalho. Quase um museu particular das turmas. O exemplo mais notório foi a espada do aluno Enzo. Segundo a família o objeto tem aproximadamente 400 anos e é passado de geração em geração desde então. De origem italiana, a espada é disfarçada em uma bengala e servia com arma para defesa pessoal. Segundo o aluno, o objeto carrega em sua história o fato de ter sido usada nas Guerras Italianas, no século XVI.
Parabéns aos alunos e professoras por propiciarem essa maravilhosa viagem pela história das coisas.