18 novembro 2015

Nas frases dessa carta, que é uma prova de afeição…

Parafraseando Rubem Alves…

“Cartas não são escritas para dar notícias, não são para contar nada, elas são para que mãos separadas se cumprimentem ao tocar o mesmo pedaço de papel”.

 

É provável que todo aluno que tenha estudado nos anos 90, ou antes, tenha, em algum momento de sua vida escolar, realizado atividades envolvendo o envio de cartas. As variações eram muitas: envio de cartas para embaixadas (na esperança de receber livros e folhetos sobre a cultura do país escolhido); intercâmbio com alunos de escolas de outras cidades, estados ou até mesmo países; participação em jogos e xadrez postal… E por aí vai.

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Fernanda Montenegro em “Central do Brasil”.

Porém, com o advento do e-mail, projetos como esse parecem ter ficado esquecidos. Se puxarmos à memória, o próprio tema “enviar cartas” pode parecer um pouco démodé (para ficar apenas nos filmes, quem não se lembra de Fernanda Montenegro, em “Central do Brasil”, redigindo cartas para ajudar pessoas analfabetas a se comunicarem com pessoas distantes).

Olhando por esse lado, pode parecer estranho que uma instituição que propõe inovar, resgate projetos desse tipo. Só que não. Inovar não significa ignorar o passado, mas pensar no futuro preservando o que há de melhor em nossa história, aperfeiçoando o que for necessário.

No projeto “Carteiro“, desenvolvido pelo Ensino Fundamental I, os alunos puderam experimentar sensações que a instantaneidade, o imediatismo e a cultura digital nos limitam sentir.

Cartas para formar… Cartas para guardar…

Vira e mexe aparece um vídeo no Facebook mostrando o espanto de crianças frente às tecnologias do século XX. O que muita gente não imagina é que uma criança de 5 ou 6 anos possa se espantar com o funcionamento de um sistema postal. Em tempos de comunicação instantânea e gratuita, comprar um selo ou aguardar 15 dias para receber uma mensagem é realmente algo surpreendente!

O começo de todas as ciências é o espanto de as coisas serem o que são“, disse o filósofo grego Aristóteles. E foi aproveitando esta verdade que as professoras do 2º ano do Ensino Fundamental carteiro_01criaram o projeto “O Carteiro”. Tendo como ponto de partida o livro de estudo e aprendizagem do 2º semestre “O Carteiro Chegou”, as professoras propuseram aos pequeninos um amigo oculto diferente. Depois de sortearem quem seria o amigo secreto de quem, ao invés de dar presentes, cada um recebeu uma missão: escrever e postar uma carta para o colega.

O trabalho não se limitou às escrita e redação, à análise de gêneros literários, ou simplesmente à língua portuguesa. O projeto conseguiu ser transcendente, analisando o tema por vários aspectos.

Carteiro_04Nas aulas de história, por exemplo, discutia-se o Trabalho Assalariado X Trabalho Voluntário.  O gancho para o tema surgiu da pergunta de um aluno “por que, afinal, tenho de pagar pelo selo?”. Além disso, aspectos cognitivos do desenvolvimento infantil foram trabalhados. Como lidar com a ansiedade da espera em um mundo onde mensagens instantâneas saltam aos olhos a cada segundo? Ou, qual a importância do planejamento e da reflexão ao formalizar no papel aquilo que sentimos e pensamos?

Fora isso, as professoras se mostraram empolgadas com outros questionamentos dos alunos, como: Por que a carta do João chegou e a minha não? É o mesmo carteiro que entrega em todos os lugares? Eu moro em condomínio, será que o carteiro também entrega lá? Todos eles discutidos e debatidos com a sala, fazendo da educação o que tem de ser: um mundo de descobertas e construção do saber!

Para quem tem dúvida sobre o fato dos alunos terem gostado ou não da atividade, seguem fotos das reações das crianças ao receberem suas cartinhas.